sábado, 5 de fevereiro de 2011

Pouca terra, pouca terra

Os leitores mais antigos do blog sabem que o Ecotretas e o Henrique Pereira dos Santos têm tido alguns desacordos, no passado. Mas cada vez mais os seus artigos na Ambio se parecem aos escritos pelo Ecotretas, dado o seu conteúdo. É o caso do seu recente artigo, o mito do comboio, em que se enumera um conjunto de argumentos, que destroem por KO os saudosismos de um conjunto de ecologistas e loucos, que infelizmente abundam neste país! É claro que já ninguém defende o transporte de burro, e de coche, e a evolução da Sociedade não se pode fazer à custa da manutenção de comboios que andam às moscas, e que de repente levam efectivamente alguém, subindo a média para três ou três ou quatro passageiros por comboio...

Mas atentemos nas palavras de Henrique, no seu artigo (realces da minha responsabilidade):

Confesso que não pensava escrever tanto sobre comboios e transportes.
Mas a quantidade de comentários aqui, e artigos noutros lados, sem o menor resquício de racionalidade na discussão do problema, faz-me voltar ao assunto.

O comboio não é importante em si mesmo (como pretende muita da gente do sector ferroviário), o importante é a mobilidade. Por isso discutir o comboio é discutir, em primeiro lugar, mobilidade.

As circunstâncias em que o comboio serve são aquelas em que existe um dimensão suficiente no volume potencial de transporte de pessoas e bens para quem o preço é mais importante que a flexibilidade. Defender linhas de comboio que não se encaixam nestas condições é contribuir para a perda de competitividade do comboio face às alternativas nas áreas em que o comboio poderia ser útil, económica, social e ambientalmente.

Discutir o comboio com base em patetices como as que mais uma vez vi hoje escritas no Público é diminuir a possibilidade de discutir seriamente as opções de mobilidade em Portugal. Dois exemplos das patetices que são muito edificantes: Beja não quer ser subalternizada em relação e Évora e não ter intercidades directo é uma desconsideração pelos Bejenses, ou o preço e o tempo de ir de comboio de Castelo de Vide para Coimbra é muito menor que ir de autocarro, sem discutir quantas pessoas por ano querem (ou mesmo podem vir a querer) ir de Castelo de Vide para Coimbra .

O que isto quer dizer é simples: deixemo-nos de lérias e olhemos desapaixonadamente para o assunto, pondo o comboio no seu lugar e discutindo o transporte ferroviário como deve ser discutido.

O que significa, sobretudo para o movimento ambientalista, abandonar a diabolização do automóvel (principalmente onde ele é inegavelmente insubstituível) e o romantismo dos comboios pitorescos.